Estive pensando em como criar uma crônica deliciosa. Dessas que se come com os olhos. Venho pensando muito em como parecer competente nesses desafios literários que me proponho a fazer. Não sei bem, mas faz um tempo que queria, também, falar sobre comida. Achei que ia combinar então. Aqui vai uma receita de como fazer bolinhos de chuva, que espero que saiam mais competentes do que essa crônica. Não vamos precisar de muito:
2 Ovos
1 Xícara de leite (à gosto)
½ de Açúcar
2 Xícaras de farinha de trigo.
Sempre quis aprender a fazer bolinhos de chuva, porque sempre gostei de comê-los. Mamãe costumava fazê-los antigamente e, como num passe de mágica, eu via os pingos de chuva pela porta de casa e depois tudo ficava um pouco mais frio. Depois de prontos eu os comia como se fossem pequenos pedaços de nuvem e juro que a sensação seria essa, caso alguém pudesse comer as nuvens. Aliás, acho isso um absurdo. Sempre quis comer as nuvens e quando não, dormir nas nuvens, atravessá-las durante a noite no horário de dormir, feito Peter Pan, e voltar para cama próximo do horário de sair para a escola. Queria ter as nuvens no céu do meu quarto por um tempo. Depois eu cresci.
MODO DE FAZER: Mexa todos os ingredientes e vai adicionando a farinha aos poucos na tigela (fermento só se não vier na farinha, ou se quiser, e mexe até desenvolver na massa). A massa precisa estar consistente, por isso é bom ir adicionando a farinha aos poucos para poder dosar o quão consistente vai ficar a massa.
De uns tempos para cá venho enxergado o tempo como um conta gotas, às vezes quebrado. Venho perdendo tempo com coisas que não merecem, venho lamentado muito o tempo que não perdi. Venho pensado na falta que vou sentir das pessoas que amo quando elas se forem. Muito estranho isso: sofrer por algo que nem aconteceu. Mas, pensando bem, às vezes é bom. Por isso é que resolvi aprender a fazer bolinhos de chuva. Não é que eu tenha medo de me esquecer deles daqui um tempo. É que foi o jeito que encontrei de enganar o tempo, de fazê-lo se demorar em pequenos momentos de alegria genuína. Não sei bem por quanto tempo terei minha mãe comigo e talvez venha disso minha necessidade gritante de engolir até engasgar tudo que ela pode me ensinar.
Enquanto for mexendo, é bom deixar o óleo esquentando no fogo baixo ou médio, mas isso vai depender de quanto tempo se leva para mexer a massa. Você tem a opção de ir moldando os bolinhos, mas acho que a graça mesmo é não moldar os bolinhos antes, porque é divertido vê-los não se parecer com pingos de chuva. Depois de pronta a massa, é só ir adicionando pequenos pingos de chuva no óleo, que faz todo o processo de enrolar a massa e deixar naquele formato fofo que a gente ama! Mas atenção, cuidado para não se queimar. Busque o auxílio de duas colheres. Uma para pegar a massa e outra para soltar a massa da colher, isso caso você não tenha um pegador. É uma gambiarra de pobre.
Odeio ir ao supermercado, mas sempre nos divertimos escolhendo as coisas e reclamando dos preços, ou da fila, mesmo que meus pés fiquem doloridos. Ela sempre esquece a senha dos aplicativos e faz um tempo também que parei de revirar os olhos a cada vez que ela me pede. Mamãe acha importante minha opinião sobre suas roupas de sair, e quase sempre crítica as que eu escolho quando vou sair. Ela acha que shorts não combina com bota, e talvez ela esteja certa.
Ah, quase esqueci! Faça numa panela antiaderente. Caso não possua, pode fazer na normal mesmo. É só dar uma mexidinha para ajudar os bolinhos a se formarem!
Os meus bolinhos saíram com cara de sapo, e tão inchados quanto. Mas saíram deliciosos! Você também pode jogar açúcar por cima que gruda facinho. Não vou saber dizer quantas porções serve, mas vai depender dos seus pingos. Aconselho que faça com alguém, porque aí fica tudo bem se a receita não der certo.
Essa pode nem ser a melhor crônica do mundo, nem pode ter sido o meu melhor tempo gasto, e também pode nem ser sobre bolinhos de chuva, ou sobre a receita de um bolinho de chuva...
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